O elefante colorido na sala
Eu acabei de terminar Star Wars Jedi: Fallen Order – e sim, eu vou politizar um joguinho, porque eu sinceramente não sei quando tudo ficou tão “despolitizado”. Tudo tem um viés, tudo tem política, ou você acha que só obras como 1984 de George Orwell, ou A Metamorfose de Kafka, tem peso político? O ponto é que tudo sempre teve política envolvida desde essas obras que eu citei, até a cultura POP como X-Men e o preconceito, ou Capitão América batendo em nazistas.
Star Wars Jedi: Fallen Order e a franquia do espaço
Enfim, voltando ao assunto – Star Wars Jedi: Fallen Order é um excelente jogo. Ele tem mecânicas divertidas e que não ficam batidas facilmente, além de ter gráficos competentes e ser bem otimizado – meu setup atual não é dos melhores, então isso com certeza é um fator relevante, mas a história desse jogo é um ponto fora da curva porque a EA tem outros jogos de Star Wars, mas nenhum rompeu a bolha como esse. Eu mesmo, como bom nerdinho que sou – cria de Alexandre Ottoni e Deive Pazos – sempre amei Star Wars, mas nunca senti vontade jogar nenhum jogo da franquia até Jedi: Fallen Order, acho que isso tem a ver com a recepção da galera sobre a história.
A história nada revolucionária
A história de Star Wars Jedi: Fallen Order não é nada revolucionária, ela segue uma linha reta com níveis bem elaborados que incentivam a exploração. Acho que ela pode ser resumida da seguinte forma:
Um sobrevivente de um genocídio feito pelo Império – um regime fascista que está no poder – tenta seguir em frente quando começa a ser cassado por usar seus conhecimentos pra salvar seu amigo, então ele encontra um pequeno grupo de rebeldes que dão a ele a esperança de talvez derrubar o Império encontrando uma lista de nomes de pessoas que o Império também quer caçar e quando encontra a lista é roubada e ele percebe que a mesma lista que pode ajudar a derrubar o Império, também pode servir para que ele seja perpetuado para sempre, então ele decide destruir a tal lista.
Eles definitivamente não reinventaram a roda, mas a rebeldia envolvida na história te instiga a seguir em frente e isso junto com as mecânicas que são introduzidas com tutoriais descarados, mas como visões da infância do protagonista que te ajudam a entender como a Ordem Jedi era importante pra ele e como o Mestre – Jaro Tapal – dele o fez entender como as coisas de fato funcionavam sem ele nem perceber.
E já que mencionamos ele, vamos falar dos personagens.
As personagens

- Cal Kestis: Esse é o nosso protagonista. Ele é sobrevivente do Expurgo – o genocídio contra a Ordem Jedi – Nesse jogo ele está, além de tentando cumprir com as expectativas que colocaram nele, em uma jornada de auto redescobrimento.

- BD-1: Uma espécie de robô cachorrinho muito simpático que acompanha Cal pela jornada, ele foi deixado em Bogano – um planeta isolado – por Eno Cordova e carrega informações importantes em sua memória.

- Eno Cordova: Uma velho Jedi-Arqueólogo obcecado pelos Zefo – uma raça ancestral que dominava o uso da força – e foi quem escondeu o holocron – a lista com o nome das pessoas sensitivas a força.

- Cere Junda e Greez Dritus: Cere é uma ex-Jedi que se tornou mentora de Cal na luta contra o Império e Greez é o piloto do Stinger Mantis – a nave que o grupo usa – eles, junto com Cal são o grupo rebelde até a chegada de Merrin.

- Merrin: Irmã da Noite de Dathomir – um planeta hostil – que se torna aliada do grupo e que é peça chave para a invasão na sede do Império, apesar de sub utilizada na história.

- Jaro Tapal: O antigo mestre Jedi de Cal, ele é mostrado principalmente em flashbacks, mas é peça fundamental para o desenvolvimento de Cal.

- Trilla Suduri: Também conhecida como Segunda Irmã é a antiga padawan – aprendiz – de Cere é a principal vilã do jogo até o seu final trájico.

- Darth Vader: Esse carinha que ninguém sabe quem é me pegou de surpresa no final do jogo e ele é como uma força imparável da natureza. É nítida a diferença entra o Cal e ele.
A ironia cômica
O mais engraçado e que chega a ser cômico, dependendo da lente que se olha, é uma empresa americana – ainda mais uma como a EA – fazendo uma jogo como esse.
O ponto é que toda a história de Star Wars Jedi: Fallen Order é sobre um grupo de revolucionários tentando derrubar um governo autocrata e fascista por definição. No início do jogo somos expostos a realidade dos trabalhadores de um lixão, onde Cal se esconde.
Lá vemos um mundo sujo e rebaixado, onde pessoas inteligentes e capacitadas viraram apenas gado em uma maquina de moer gente que sinceramente me lembrou muito o movimento de sucateamento e prostituição do mercado de trabalho atual.
Onde eu trabalho mesmo, eu posso citar o nome de várias pessoas que são formadas e, ou simplesmente não trabalham na sua área de especialidade por falta de oportunidade, ou ganham abaixo do piso da categoria e vejo todos os dias pessoas com medo de reivindicar seus diretos por causa do exercito de contingência – eu mesmo sou um desses.
Conforme o jogo avança e visitamos outros planetas e outras realidade, vemos que isso se espalhou por todos os lugares e que o regime é fortemente opressor em todos os sentidos – o que reflete sua própria criadora.
A Electronic Arts – conhecida pelos íntimos como EA – é uma empresa conhecida no mundo todo por suas práticas abusivas com loot boxes.

E ser uma partidária ferrenha das políticas de Crunch, pauta de uma das maiores lutas pelas melhorias das condições de trabalho hoje por parte dos trabalhadores da indústria de games.

Retratar cenas como a do lixão em Jedi: Fallen Order é, ou um ato de ignorância, ou um ato de protesto por parte dos criadores do jogo.
